16 junho 2015

O medo de perder alguém.

Além do velho do saco, que poderia aparecer tocando a campainha se a gente não raspasse o prato ou se não dormisse no horário, havia o medo permanente da carrocinha, que levaria meu cachorro embora. 

A esquina era ameaça do recolhimento dos cães. 


Meu cachorro não poderia permanecer sozinho por aí, passear à toa, senão seria posto num furgão com cela, algemado e jamais o teria de volta. 

A carrocinha animou meus pesadelos de pequeno. Eu suava frio, arregalava os olhos, porque os pais diziam que o motorista não tinha compaixão: “animal andando sozinho, carregava”. Ele nem procurava descobrir onde morava, não investigava seu paradeiro. E a mãe ainda vinha com o terrorismo de que os cachorros virariam sabão.

Sofria com a ameaça constante dos caçadores diabólicos das mascotes pela madrugada.

Preparei coleira para o cachorrinho, com endereço e telefone. Dava banho todo dia para que não parecesse sujo e anônimo. Explicava o caminho de casa, sempre largando ração no jardim para fixar o lugar.

Não deixava sair de perto. Observava quem abria o portão para que logo fechasse. Eu me arrepiava com cada visita e a possibilidade da porta encostada.

Protegia meu vira-lata mais do que brincava com ele.

É da infância o meu medo de perder alguém.

Carrego dentro de mim uma sensação de inesgotável vigília. Os efeitos colaterais das histórias de pequeno não terminaram na adolescência, seguiram adiante, atingiram o batimento cardíaco de homem feito.

Troquei apenas a carrocinha por outro nome. Mas não confio na rua. Dependo da proximidade para cuidar.

Peno quando meus familiares demoram a regressar. Prefiro estar longe a ficar em casa esperando – é menos tensão.

Todos os amores foram cachorros inofensivos, indefesos, vulneráveis a uma emboscada. Como se não pudessem se defender, como se não pudessem contornar as dificuldades, como se viver fosse pedir ajuda.

Não sei explicar exatamente. Fiquei sequelado pela contundência das advertências infantis.

A cada despedida de namoro, por exemplo, emergia a angústia: de que modo ela vai se cuidar sozinha? Vai dar conta dos perigos, recusar quem possa lhe fazer mal?

E perguntava se estava bem, se precisava de alguma coisa, telefonava e não me mantinha indiferente ou independente com a separação. Ainda carecia de notícias. Não me desligava completamente, até sentir que ela estava a salvo. Mas somente estaria a salvo comigo, na minha loucura atrapalhada de onipotência.

Talvez a carrocinha seja o meu pânico de virar sabão. Um herói sem missão, um salvador desempregado. Que eu termine esquecido, com o fim da espuma da raiva, e não seja procurado de volta.
Fabrício Carpinejar.

Necessário é metamorfosear.

Transbordante

27 maio 2015

Soneto de Fidelidade.

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento


E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama


Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes, "Antologia Poética", Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1960, pág. 96

18 abril 2015

Talvez seja justo.


"Eu me preocupava muito sobre quem eu seria quando eu crescesse, quanto dinheiro eu ia ganhar ou se algum dia eu ia ser um figurão. Às vezes o que a gente mais quer não acontece e algumas vezes, o que não espera, acontece. Como desisti do meu emprego em Chicago e tudo mais, e decidi ficar, e entrar na faculdade de medicina. Eu não sei, a gente conhece milhares de pessoas e nenhuma delas te toca realmente, e então conhece uma pessoa, e sua vida muda, pra sempre."
Amor e outras drogas.

16 abril 2015

A respeito das minhas muitas fases e como eu te amo;

A nossa "primeira" foto oficial de namorandinho.
"Não posso prometer estar feliz todo dia. Não mando no meu estado de espírito. Nem sempre acordarei de bom humor. Não tenho como antecipar  disposição. Nem há como garantir que terei vontade de sair no final de semana. Não sei como estarei amanhã. Não farei fiado de risadas depois do trabalho. Não existe como me prevenir da irritação, do cansaço, da falta de esperança.

Posso ser chato, pessimista, uma péssima companhia.

Precisa entender que nem sempre estarei alegre, mas nunca deixarei de ser agradecido. Agradecido por você estar comigo, por ser seu.

Jamais faltará agradecimento de minha parte. Agradecido mesmo quando estou triste. Agradecido porque você me torna melhor mesmo quando estou na pior."
Fabricio Carpinejar

E eu desejo do fundo do coração que venham mais muitos meses, meu amor e amigo s2

10 abril 2015

Você e eu (Ninguém no mundo)


Você retoca a maquiagem, só por fazer
Acho que você não sabe que é linda
Experimenta cada vestido que tem
Para mim, você estava bonita há meia-hora
Se seu espelho não deixa claro, eu deixarei
Serei eu quem vai te dizer
De todas as garotas
Você é a única para mim
Não há mais alguém no mundo hoje à noite
Todas as estrelas, você as faz brilhar como nossas
Não há alguém no mundo além de você e eu
Você e eu
Não há alguém no mundo
Você continua se perguntando se é quem eu quero
Você nem precisa tentar.
Jonh Legend